(modificações realizadas)
Praça Costa Pereira
Na praça
Toca o telefone insistente do ponto de taxi
Alguém quer chegar em algum lugar
(todos querem)
Pernas afro-pomerano-tupiniquins
Businas anglo-germânico-japonesas
Um bebê chora
(a mãe atende)
O telefone grita
(ninguém atende)
Acendo um cigarro e me oferecem um cartão de crédito
(obrigada, não quero crédito)
Árvores e indigentes são engolidos pelo concreto
Continuo fumando e me oferecem a salvação
Amasso o folheto evangélico
Jogo-o na bolsa
A cidade é um lixo
(sem lixeiras)
O telefone quer atenção
(todos querem)
Pernas frenéticas
(meu Deus, pra que tanta perna?)
Businas inquietas
O telefone.
Brincam de locomotiva nas praças
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Brincam de bandido e mocinho nos becos
Bang bang You're dead
Brincam de fé:
nos altares
Ama,
Não ama,
Se ama, me chama...
nos terreiros
Bat macumba iê iê
Bat macumba obá
nas igrejas
Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará...
nas casas lotéricas
...e se Deus não dá
Oh nega
Como é q vai ficar?
nas ruas
Misere nobis
Ora pro nobis
Em nome do Pai
Do Filho
E deste Espírito Santo
Cercado por todos os santos ao norte
Pelo Itabapoana ao sul
No coração do Brasil
Amém!
Trim
Triiiiiiiiiiiiiimm
Piso numa goma grudada na calçada
(símbolo de modernidade )
As praças são pistas
De pouso (à noite)
De dança (ao dia)
De um rumo (à qualquer hora)
Na praça
Pernas dançam
Buzinas cantam
O telefone toca
Um teatro indiferente
Barrococó neo-colonial recém restaurado
Congela o tempo
Para si e seus anjos de gesso
Enquanto Pereiras fornicam Oliveiras
Gerando frutos
Sem flores.
................................................................... Karina Viega
sábado, 19 de abril de 2008
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4 comentários:
Caralho Karinaaa, eu gostei taaaaaaaaanto do texto!
Vc é uma danada mesmo!
Pena que não foi no rock!
Saudades!
Narjara
obrigada, minha linda!
não deu para ir...
fiz algumas modificações no poema...
pois é, um poema na gaveta ganha vida própria!
Só agora o fui ler, ainda bem que arte não envelhece.
Belezura de texto.
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